As estratégias medicamentosas para o tratamento dos transtornos mentais progridem com a evolução da Medicina. Uma ferramenta muito promissora é o uso da Escetamina (ou Esketamina). É um medicamento derivado da Cetamina (ou Ketamina) – substância originalmente desenvolvida para um efeito anestésico. Porém, descobriu-se que em doses muito baixas (doses subanestésicas), a Cetamina tem uma ação antidepressiva e, especialmente, antissuicida (reduz os pensamentos suicidas com uma rapidez notável). Por anos, psiquiatras utilizaram a Cetamina com a finalidade de tratar depressão e ideação suicida, especialmente por via endovenosa.
Nos últimos anos, foi desenvolvida uma variação da Cetamina chamada de Escetamina (que não tem ação anestésica); esta é aplicada por via intranasal. Através de um dispositivo de aplicação que lança um jato na narina do paciente (muito parecido com outros jatos nasais), a medicação age no organismo de uma forma muito segura e bem tolerada. Esse tratamento inovador é indicado para aquelas pessoas com depressão resistente ao tratamento (aquela que não melhora com os tratamentos habituais de remédios e psicoterapia), e para pessoas com ideações suicidas (pensamentos de suicídio). Cerca de 60-70% das pessoas que a utilizam apresentam boa resposta! E o principal é que essa melhora se dá muito rapidamente (logo após a primeira aplicação, muitas pessoas já notam melhoras consideráveis).
Como funciona esse processo: tendo a devida indicação, são realizados relatórios e receitas específicas, que são direcionados a um centro hospitalar que seja cadastrado para realizar a aplicação (não é possível comprar essa medicação em farmácias); o hospital faz a solicitação junto da operadora de saúde (convênio); obtida a aprovação, são agendados os dias de aplicação. Para depressões resistentes ao tratamento, normalmente são realizadas duas sessões por semana por 1 mês, depois uma sessão por semana por 1 mês, depois uma sessão a cada duas semanas por 6 meses; nas ideações suicidas, são realizadas duas sessões por semana por 1 mês.
A aplicação é bastante simples: o profissional de saúde do centro de aplicação fornece os dispositivos ao paciente, e o próprio paciente faz a aplicação. Após, é necessário permanecer em observação hospitalar por até duas horas, a fim de monitorar possíveis efeitos adversos (como elevação de pressão arterial, por exemplo). Ainda assim, é um procedimento seguro e bem tolerado pela maioria das pessoas. Ao término desse período, a pessoa está liberada. É importante ter um acompanhamento minucioso dos sintomas, o entendimento dos diagnósticos psiquiátricos, e a otimização dos tratamentos também por via oral.
Sou professor de Psicofarmacologia – estudo e ensino sobre os medicamentos psiquiátricos nas mais diversas doenças. Com isso, tenho bastante experiência com esse tratamento – acumulo dezenas de paciente sob meus cuidados que realizaram tal procedimento.