O transtorno bipolar é um problema de saúde mental que causa mudanças extremas de humor. Se você tem transtorno bipolar, às vezes pode se sentir excessivamente animado, impulsivo, irritado ou irracional (chamado de mania) ou hipomaníaco (uma forma mais branda de mania). Em outros momentos, você pode se sentir excessivamente triste (chamado de depressão grave).
O transtorno bipolar pode dificultar o desempenho no trabalho ou na escola, e afetar os relacionamentos com amigos e familiares. Ele até aumenta o risco de suicídio se não for tratado, ou se for tratado incorretamente. No entanto, há várias opções de tratamento eficazes disponíveis.
Por muitas razões, pode levar muitos anos para diagnosticar o transtorno bipolar. Como exemplo, uma pessoa pode ter várias crises de depressão antes de uma crise de hipomania ou mania.
Causas do transtorno bipolar
A causa exata do transtorno bipolar não é clara. O problema pode estar relacionado a um desequilíbrio de substâncias químicas no cérebro. Essas substâncias químicas permitem que as células se comuniquem entre si e desempenham um papel essencial em todas as funções cerebrais, incluindo movimento, sensação, memória e emoções. Além disso, a estrutura da personalidade e os fatores ambientais estressores também estão relacionadas ao desenvolvimento do transtorno.
Aproximadamente de 1-3% das pessoas em todo o mundo têm transtorno bipolar. Pessoas com histórico familiar de transtorno bipolar têm um risco aumentado de desenvolver a condição. A maioria das pessoas desenvolve os primeiros sintomas do transtorno bipolar entre 15 e 30 anos; é incomum desenvolver os primeiros sintomas como criança ou como adulto com mais de 65 anos.
Sintomas do transtorno bipolar
Mania — A mania (“euforia”) faz você se sentir anormalmente e persistentemente feliz, com raiva, hiperativo, impulsivo e irracional em momentos diferentes. Esses sentimentos duram pelo menos uma semana e podem ser graves o suficiente para exigir tratamento hospitalar. Outros sintomas podem incluir:
- Sentimento de poderes especiais e superioridade
- Necessidade reduzida de sono e inquietação
- Fala excessiva
- Aumento da atividade dirigida a objetivos diversos
- Pensamentos acelerados
- Pouca atenção
- Riso ou piadas inadequadas ou envolvimento em muitas discussões
- Gastos excessivos inadequados ou atividade sexual
A mania muitas vezes dificulta a manutenção de relacionamentos com amigos e familiares e pode interferir no trabalho ou em outras responsabilidades. Durante um episódio maníaco, seu humor pode mudar rapidamente de euforia para depressão ou irritabilidade.
Hipomania — A hipomania é menos grave do que a mania, mas causa uma mudança de humor anormal. Os episódios de hipomania geralmente são mais curtos do que os episódios de mania, mas duram pelo menos quatro dias. A hipomania pode não afetar gravemente sua capacidade de trabalhar ou frequentar a escola, e algumas pessoas até funcionam melhor durante um episódio de hipomania. A hipomania também deve ser tratada com medicamentos, pois pode levar a um episódio maníaco ou depressivo.
Depressão — Pessoas com depressão se sentem muito tristes e podem ter até dificuldade em realizar atividades comuns, como tomar banho, se vestir e cozinhar. Durante um episódio depressivo, você pode se sentir triste a maior parte do dia ou pode ter pouco ou nenhum interesse em qualquer atividade. Outros sintomas podem incluir:
- Perda ou ganho de peso (devido a mudanças na quantidade que você come)
- Dificuldade para dormir ou dormir demais
- Facilidade de irritação
- Fadiga, perda de energia, lentidão
- Sentimento de falta de valor ou culpa
- Dificuldade em se concentrar e tomar decisões
- Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio
Álcool e drogas — Mais de 60% das pessoas com transtorno bipolar abusam de álcool ou drogas.
Suicídio — O risco de suicídio também é maior em pessoas com transtorno bipolar em comparação com pessoas com outras doenças psiquiátricas (incluindo depressão). O suicídio muitas vezes é resultado da sensação de desespero e é mais provável em pessoas com sintomas graves.
Procure ajuda imediatamente se estiver pensando em se machucar ou se matar. Às vezes, pessoas com transtorno bipolar e/ou depressão pensam em se machucar ou se matar. Se um membro da família ou amigo mencionar o suicídio, você deve levar isso muito a sério e entrar em contato imediatamente com um serviço de saúde de emergência.
Diagnóstico do transtorno bipolar
Não existe um teste que possa diagnosticar o transtorno bipolar. Em vez disso, o diagnóstico é baseado em um histórico médico e psiquiátrico, e em um exame de estado mental. Exames laboratoriais podem ser realizados para descartar outros diagnósticos clínicos, como hipertireoidismo, por exemplo.
Tratamento da mania no transtorno bipolar
O tratamento da mania visa atenuar os sintomas o quanto antes. Na fase inicial da mania (chamada de fase aguda), você pode estar psicótico (com crenças falsas e fixas ou ouvindo vozes ou vendo coisas que outras pessoas não conseguem ver ou ouvir). Você pode não conseguir tomar boas decisões e pode estar em risco de se machucar ou machucar outras pessoas. Pode ser necessário tratamento hospitalar temporário, até que seu medicamento comece a fazer efeito.
Os medicamentos são o principal tratamento para a mania, e vários medicamentos estão disponíveis. Geralmente, não é possível saber antecipadamente qual medicamento será o mais eficaz e causará menos efeitos colaterais. Pode ser necessário experimentar vários medicamentos antes de encontrar o melhor.
Medicamentos antipsicóticos — são frequentemente usados inicialmente no tratamento da mania. Eles podem ser usados sozinhos ou em combinação com outros medicamentos; a terapia combinada geralmente é recomendada para pacientes com mania grave. Exemplos de medicações que podem ser utilizadas para o tratamento de mania no transtorno bipolar: risperidona, quetiapina, olanzapina, aripiprazol, clozapina, carbonato de lítio, valproato de sódio, carbamazepina. Todos esses medicamentos podem ser eficazes, e a escolha é frequentemente feita com base nos medicamentos que você tomou antes, nos efeitos colaterais e em eventuais doenças médicas subjacentes.
Tratamento da depressão no transtorno bipolar
A depressão no transtorno bipolar é bastante parecida com as outras formas de depressão. Porém, o tratamento medicamentoso é diferente. Medicações que ajudam pessoas com depressão unipolar (não relacionada ao transtorno bipolar) não as melhores para tratar a depressão bipolar, e vice e versa. Os medicamentos que tem melhor ação antidepressiva no transtorno bipolar são: carbonato de lítio, lamotrigina, lurasidona, quetiapina, valproato de sódio.
Terapia de manutenção do transtorno bipolar
Medicamentos — Uma vez que os piores sintomas de mania ou depressão estejam sob controle, o tratamento se concentra na prevenção de recorrências (momentos que em a pessoa experimenta a volta dos sintomas). Pessoas que sofreram um episódio maníaco geralmente são orientadas a continuar tomando medicamentos para controlar o transtorno bipolar. Isso geralmente inclui um único medicamento estabilizador de humor, como lítio ou valproato. Outros medicamentos também podem ser recomendados se, por exemplo, um único medicamento não for útil ou se você não tolerar os efeitos colaterais.
Psicoterapia — Embora os medicamentos sejam o tratamento de escolha para o transtorno bipolar, a terapia de conversa e aconselhamento também desempenham um papel importante no tratamento. Isso é especialmente verdade após um episódio agudo ter passado. A psicoterapia pode incluir aconselhamento individual, bem como educação, terapia conjugal e familiar ou tratamento de abuso de álcool e/ou drogas. A terapia pode ajudá-lo a aderir ao seu medicamento, o que pode reduzir o risco de recaída e a necessidade de hospitalização.
Mulheres e transtorno bipolar
Gravidez — Mulheres que estão tomando medicamentos para o transtorno bipolar e estão considerando a gravidez devem conversar com seu médico antes de tentar engravidar. Se você estiver tomando medicamentos para o transtorno bipolar e descobrir que está grávida, não pare de tomar o medicamento repentinamente. Em vez disso, fale com seu psiquiatra para determinar se você deve continuar o medicamento, mudar para outro medicamento ou reduzir o medicamento gradualmente. Parar o medicamento durante a gravidez (especialmente se for feito repentinamente) pode aumentar o risco de episódios maníacos ou depressivos após o nascimento do seu bebê.
A decisão de continuar a tomar medicamentos durante a gravidez é difícil devido aos riscos potenciais para você (se não for tratada ou tratada inadequadamente), para o seu bebê em desenvolvimento e para sua família. Você deve discutir todos os riscos e benefícios do tratamento com um profissional de saúde experiente que possa ajudar a decidir qual tratamento é o melhor.
Controle de natalidade — Alguns dos medicamentos usados para tratar o transtorno bipolar, incluindo a carbamazepina, interagem com pílulas anticoncepcionais, adesivos cutâneos e anéis vaginais. Como resultado, as mulheres que tomam esses medicamentos devem considerar outro método anticoncepcional, como um DIU (dispositivo intrauterino), preservativos ou abstinência, para evitar a gravidez. Se você não tem certeza sobre o método anticoncepcional apropriado para você, converse com seu médico.
Prognóstico do transtorno bipolar
Aproximadamente 75% das pessoas com transtorno bipolar respondem bem ao tratamento e podem levar uma vida estável com poucos ou nenhum sintoma. Pessoas com diagnóstico mais tardio, especialmente aqueles que continuam tendo sintomas por muitos anos, tendem a responder menos bem ao tratamento.
O curso do transtorno bipolar varia muito de pessoa para pessoa. Algumas pessoas têm apenas um ou dois episódios ao longo de suas vidas, enquanto outras têm episódios frequentes. Para algumas pessoas, os episódios maníacos ou depressivos ocorrem juntos, enquanto para outras ocorrem separadamente.
Material complementar:
Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos
ABP TV – Especial Bipomarço: diagnóstico do transtorno bipolar